Reproduzimos aqui este excelente texto do instrutor de pilotagem Geraldo TITE Simões. Aproveitem!
Assim que meu pai me deu a primeira moto, quando eu ainda era um pirralho de 12 anos, ele fez duas advertências: pilote olhando pra todos os lados e cuidado nos cruzamentos!
Bom, se ele dizia isso 38 anos atrás é sinal que as coisas já eram ruins naquela época e só poderiam piorar a partir de 1972. A recomendação não era gratuita, porque ele mesmo tinha sido vítima de um violento acidente provocado por um motorista que ignorou a placa de PARE pendurada em um poste! Felizmente meu pai apenas perdeu alguns dentes. Perdeu, não, porque na verdade eles ficaram todos fincados no volante do Gordini!
Cruzamento é uma situação tão exposta a acidentes que eu confesso – publicamente – que sou xiita o suficiente a ponto de desviar minha trajetória só pra fugir deles. Principalmente se não tiver semáforo. No meu começo como motociclista não havia as rotatórias, que reduziram muito a ocorrência de acidentes nos cruzamentos. Mesmo assim, o maior problema do cruzamento e das rotatórias é a incapacidade mental de motoristas e motociclistas em reunir as quatro letras P + A + R + E e perceber que elas, juntas, significam: PARE.
É impressionante como até o menos chegado à matéria como lingüística é capaz de somar essas quatro letras e deduzir que significa pare, e que a palavra “pare” no idioma português significa “imobilize-se”. O problema não é o significado, mas o significante: a placa! O brasileiro é um revolucionário: hay placa, soy contra! Seja de “pare”, seja aquele triângulo invertido (dê a preferência), seja a palavra PARE escrita no asfalto, tanto faz. Tem placa, é pra ignorar.
Recentemente, um motociclista jovem, bem sucedido, morreu quando um motorista de 19 anos ignorou a placa de pare e atravessou direto uma das mais movimentadas ruas de uma cidade do interior de São Paulo. Como sempre, as fotos estavam na internet no dia seguinte e pôde-se perceber que a moto atingiu o carro na metade traseira. Ou seja: o motorista entrou sem nem olhar!
No curso SpeedMaster eu reforço várias vezes a importância de pilotar de forma preventiva, que significa: duvide dos outros! Quando estou na moto a via preferencial é sempre a dos OUTROS! Não importa se há, ou não, placas de sinalização, semáforos, rotatórias, qualquer coisa. A moto é o veículo frágil do trânsito (só menos frágil do que as bicicletas), portanto cabe aos motociclistas a postura preventiva.
O pior
Basicamente existem quatro tipos de cruzamento:
- O cruzamento em vias de mão dupla (o pior de todos)
- O cruzamento misto, com vias de mão única x via de mão dupla
- O cruzamento de duas vias de mão única
- O cruzamento com semáforo
Fonte: CETH-Honda |
Agora, imagine se o motociclista precisa virar à esquerda. Nessa situação o motociclista tem 25% de chance de ser atingido pelo veículo que vem de trás; 25% pelo que vem da frente; 25% de chance de ser atingido pelo carro que vem da esquerda e 25% pelo que vem da direita.
Não precisa ser um gênio da matemática para perceber que 25% x 4 = 100%!!! Em outras palavras JAMAIS se exponha a esta situação. Para entrar à esquerda é melhor seguir reto, dar toda a volta completa no quarteirão e enfrentar o cruzamento sempre de frente.
NUNCA pare no meio do cruzamento para esperar os carros passarem, porque esta é a PIOR situação que um motociclista pode se posicionar no trânsito. A moto tem uma área muito pequena e pode ficar facilmente escondida pelas colunas “A” (esquerda) e “B” (direita) dos carros. Imagine a dificuldade para o motorista de ônibus que está lá em cima! Não dá nem pra desviar da moto!
Essa situação só fica pior de uma forma: à noite! Imagine que a maioria das motos tem o farol integrado ao guidão, portanto o farol vira junto com o guidão. Nesse caso a moto se torna invisível para os veículos quem vêm em sentido contrário! E o motorista que vem de trás tem a visão ofuscada pelos carros que vêm em sentido contrário e não percebe o motociclista parado no meio do cruzamento!
Finalmente, uma dica aos motoristas: quando parar seu carro em um cruzamento de vias de mãos duplas para entrar à esquerda, nunca pare com as rodas já viradas pra esquerda. Pare sempre com as rodas apontadas para a FRENTE, porque se o carro parado levar uma batida por trás, com direção virada à esquerda, ele dará um salto pra esquerda e poderá ser atingido de frente pelo veículo que vem no sentido contrário. Que pode ser uma moto!
Fretados
Lembram que escrevi, muito tempo atrás, um artigo criticando os ônibus fretados? Pois a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente finalmente decidiu pegar no pé desses veículos. Primeiro houve ameaça de simplesmente proibirem as fretados, claro, porque a proibição é a forma mais fácil de resolver um problema complexo. Mas prevaleceu o bom senso e agora estudam regulamentar vias, criar bolsões de restringir as áreas de circulação deles. Só esqueceram do escapamento: vai continuar bem na altura do nariz dos motociclistas e pedestres. Mas quem liga pra nós?
Cruz credo!!!
O cruzamento é uma situação tão crítica para qualquer veículo que deveríamos criar um santo protetor.
Já mostramos o pior de todos os cruzamentos, aquele de duas vias de mão dupla. Agora você conhecerá os outros três tipos de cruzamentos:
Fonte: CETH-Honda |
Independentemente de códigos criados pelos departamentos de trânsito, para nós motociclistas é fundamental reduzir a velocidade em todo tipo de cruzamento, com ou sem sinalizações. E repare em um dado curioso: geralmente nos cruzamentos são pintadas faixas de pedestres, com um material reflexivo feito à base de plástico. Essas faixas apresentam um coeficiente de aderência inferior ao asfalto. Ou seja, onde mais precisamos de aderência para frear é colocado um redutor de atrito! Quando se aproximar das faixas de pedestres fique na parte escura, aquela feita de asfalto mesmo!
Fonte: CETH-Honda |
Fonte: CETH-Honda |
(texto originalmente publicado em duas partes no http://www.motonline.com.br/colunistas/tite/cruzamento1-14jun09.html e http://www.motonline.com.br/colunistas/tite/cruzamento2-28jun09.html)
Geraldo Tite Simões
Jornalista especializado há 25 anos, piloto e instrutor de pilotagem. Já editou as principais revistas de motociclismo do Brasil.
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